Texto elaborado pela bolsista Jady Berreta
Já sabemos que os insetos são uma boa fonte alimentícia por seu grande teor nutricional, mas além de alimentos, suas propriedades também são aproveitadas por alguns povos como tratamentos medicinais.
São diversas as espécies que são utilizadas para tratamentos de algumas enfermidades ao redor do mundo, porém nesse texto citarei o uso das baratas que, por mais que sejam insetos considerados repulsivos por boa parte da população, estão cada vez mais introduzidas na área medicinal.
Figuras 1 e 2: A primeira mostra uma barata comum e a segunda a barata carocha. Fonte: (1) https://ichef.bbci.co.uk/news/410/cpsprodpb/0B19/production/_101014820_cucasola.jpg, (2) https://www.biofaces.com/img/1628/o/1123/748/post/2017/09/1480368514.jpg
As duas espécies de barata mais utilizadas são a comum ou Periplaneta americana (Figura 1) e a carocha ou Eurycotis manni Rehn (Figura 2), mas também há citações do uso da barata verde (Panchlora nivea). Seu uso na medicina é mais conhecido na China, onde existem fazendas para a criação deste inseto em larga escala e em outras regiões da Ásia, porém seu uso terapêutico é bem mais antigo do que se imagina:
Historicamente, a utilização medicinal de baratas é bastante antiga. Plínio, o Velho, já no século I d.C., dizia que a gordura de uma certa “Blatta”, quando moída com óleo de rosas, era muito boa para o tratamento de dores de ouvido (Carrera, 1993). No Brasil do século XVIII, Sampaio (1789 apud Nomura, 1998) assim descrevera o uso de P. americana: “Torrefacta, e em pó dada em qualquer licor de hum bom anticolico. Também aproveita nos affectos asmáticos cozida em agoa commua, e dado o cozimento a beber ao enfermo repetidas vezes”. Na medicina tradicional da Amazônia, o pó dessa barata dissolvido em vinho, aguardente ou simplesmente água é usado em casos de retenção de urina, cólicas renais e ataques de asma (Figueiredo, 1994). Meyer-Rochow (1978/ 1979) diz que baratas assadas são comidas em partes da Indonésia para a cura da asma e que o povo Yolnu que vive no norte da Austrália trata pequenos cortes colocando uma poção de baratas esmagadas nas feridas (Costa Neto; Medeiros Pacheco, 2004).
São várias as maneiras na qual a barata é empregada, pode ser usado o pó da barata colocado em bebidas como dito acima; a ingestão da barata inteira ou em pedaços cozida e até mesmo só o liquido que fica depois de cozer as baratas.
Uma outra maneira é quando ela é triturada e processada gerando um líquido com aroma de pescado e de sabor doce que é chamado de Kangfuxin (BBC, 2018), esse líquido já foi testado e quando combinado ao Ácido Aminossalicílico mostra bons resultados para o tratamento de colite ulcerosa (doença intestinal inflamatória e crônica que provoca inflamação no trato digestivo), porém ainda são necessário mais testes.
A utilização da barata é mais conhecida para curar asma e gastrite, mas também é usada para tratar bronquite asmática, furúnculo, cólicas, úlcera entre outras.
O uso dos insetos na medicina é uma alternativa bem mais barata e acessível, assim se houvessem incentivos para estudar a efetividade desses medicamentos, teríamos novas descobertas médicas e essas espécies seriam bem mais valorizadas.
Vale lembrar que é importante procurar especialistas para confirmar a espécie e procurar orientação médica antes de iniciar os tratamentos com baratas ou outros insetos.
Leitura complementar sobre o Kangfuxin em tratamentos:
Li HB, Chen MY, Qiu ZW, et al. Efficacy and safety of Kangfuxin liquid combined with aminosalicylic acid for the treatment of ulcerative colitis: A systematic review and meta-analysis. Medicine (Baltimore). 2018;97(21):e10807. doi:10.1097/MD.0000000000010807. Disponível em:<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29794765/>. Acesso em: 28 de Maio de 2020.
Referências:
COSTA NETO, Eraldo Medeiros; PACHECO, Josué Marques. Utilização medicinal de insetos no povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, Bahia, Brasil. Biotemas, Florianópolis, v. 18, n. 1, p. 113-133, jan. 2005. ISSN 2175-7925. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/view/21470>. Acesso em: 24 maio 2020.
COSTA NETO, Eraldo Medeiros; RESENDE, Janete Jane. A percepção de animais como “insetos” e sua utilização como recursos medicinais na cidade de Feira de Santana, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences. Maringá, v. 26, no. 2, p. 143-149, 2004. Disponível em:< http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciBiolSci/article/download/1612/977/0>. Aceso em 24 de maio de 2020.
Por que a China cria 6 bilhões de baratas por ano em uma fazenda tecnológica. BBC, 2018. Disponível em:<https://www.bbc.com/portuguese/geral-43888174>. Acesso em: 25 de maio de 2020.