Texto elaborado pela colaboradora Sofia Nassif Crestani.
A segunda maior causa de perda de biodiversidade no planeta é a invasão por espécies exóticas. Essas espécies são introduzidas em regiões onde não ocorrem naturalmente e causam danos econômicos, sociais, culturais, ambientais e à saúde humana. Essa introdução pode ocorrer de forma mediada, voluntária (quando há intenções), involuntária (ocorre acidentalmente, como no caso de pragas agrícolas e vetores/agentes causadores de doenças) e por ações humanas.
Se essa espécie consegue se reproduzir e gerar descendentes férteis, com alta probabilidade de sobreviver no novo habitat, esta é considerada como estabelecida e se a espécie conseguir expandir sua distribuição nesse novo ambiente será considerada como exótica invasora. As espécies exóticas invasoras podem causar impactos aos ecossistemas, uma vez que modificam os ciclos ecológicos naturais. A disseminação de espécies exóticas invasoras também representa problemas e custos à saúde humana, por meio da entrada de patógenos e parasitas exóticos. A estratégia mais eficiente e econômica para enfrentar os problemas é evitar novas introduções.
Segundo o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental existem 461 espécies exóticas no Brasil, sendo 9 da classe Insecta (Tabela 1).
Tabela 1: Espécies de insetos exóticos invasores no Brasil.
Nome científico (Classe, Família)
Aedes aegypti (Diptera, Culicidae)
Aedes albopictus (Diptera, Culicidae)
Anthidium manicatum (Hymenoptera, Megachilidae)
Apis mellifera (Hymenoptera, Apidae)
Digitonthophagus gazela (Coleoptera, Scarabaeidae)
Harmonia axyridis (Coleoptera, Coccinellidae)
Hyblaea puera (Lepidoptera, Hyblaeidae)
Pheidole megacephala (Hymenoptera, Formicidae)
Zaprionus indianus (Diptera, Drosophilidae)
Fonte: Instituto Hórus
Os dois primeiros insetos causam um problema de saúde. O Aedes aegypti é um vetor já estabelecido no Brasil, trazido da África (provavelmente com o tráfico de escravos). Já o Aedes albopictus é recente, chegou à América na década de 80. Apesar de que não foram encontrados adultos de A. albopictus naturalmente infectados, em laboratório foi comprovada sua capacidade de transmissão do vírus da dengue.
Anthidium manicatum (chamada de abelha européia de lã) é uma espécie de abelha endêmica da Europa, Ásia, Norte da África (Figura 1). Foi acidentalmente introduzida na América do Norte e em alguns países da América do Sul como Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Figura 1: Anthidium manicatum em detalhes, mostrando o macho e a fêmea. Fonte: https://www.biolib.cz/en/image/id133690/
Uma subespécie de abelha Apis mellifera, também uma espécie de abelha endêmica da África, foi introduzida no Brasil para aumentar a produção de mel no país. De forma acidental essas abelhas escaparam do apiário experimental no estado de São Paulo e passaram a se acasalar com as abelhas da subespécie europeia (introduzidas pelos imigrantes no sul do Brasil), formando um híbrido natural chamado de abelha africanizada. O comportamento agressivo dessas abelhas causou um grande problema no manejo dos apiários e muitos apicultores abandonaram a atividade e também as espécies nativas de abelha começaram a diminuir.
Digitonthophagus gazela é um besouro rola bosta, endêmico da África, Índia, Sri Lanka. Esta espécie tem grande importância econômica, pois foi introduzida (no Brasil pela Embrapa em 1989) em todo o mundo para controle biológico de mosca-dos-chifres e melhoria de pastagens. É reconhecido como espécie invasora e as pesquisas indicam alterações nas comunidades de espécies nativas de besouros coprófagos (ingerem fezes).
A Harmonia axyridis (mais conhecida como joaninha) é um besouro com uma variedade ampla de formas de cores. É nativo do leste da Ásia, mas foi introduzido artificialmente na América do Norte e na Europa para controlar pulgões e cochonilhas. Agora é comum na América do Sul.
Hyblaea puera, lagarta desoladora da teca, é uma mariposa nativa do sudeste da Ásia. A lagarta se alimenta de teca e outras árvores sendo considerada uma das principais pragas de teca do mundo.
A Pheidole megacephala, também conhecida como formiga africana (Figura 3). É considerada uma das espécies invasoras mais problemáticas de formigas e causou problemas ambientais devastadores em todo o mundo. Elas formam uma super colônia praticamente contínua que exclui a maioria das outras espécies de formiga.
Figura 2: Operárias de Pheidole megacephala. Fonte: https://www.antwiki.org/wiki/Pheidole_megacephala
Zaprionus indianus, a mosca africana do figo, endêmica da África é uma espécie generalista, potencialmente uma praga agrícola em alguns locais do mundo.
Para frear o avanço de espécies exóticas invasoras e reduzir impactos de invasões biológicas podem ser adotadas as seguintes medidas:
- desenvolvimento de estratégias governamentais e políticas públicas com objetivo de prevenir a entrada de novos organismos potencialmente perigosos (tanto por meio de introduções intencionais legais ou ilegais, quanto de introduções acidentais),
- criar um programa permanente de controle e manejo de espécies exóticas invasoras já estabelecidas e também das recém-detectadas, com destaque para as unidades de conservação,
- desenvolver programas e atividades de educação formal, informação e conscientização públicas,
- regulamentação para atividades econômicas baseadas no cultivo, na produção e/ou na comercialização de espécies exóticas invasoras e,
- desenvolver capacidade técnica e estrutura institucional necessária ao planejamento e à implementação dessas ações.
Resumidamente: prevenção, detecção precoce e resposta rápida; controle, manejo e monitoramento; informação e conscientização pública; base legal e estrutura institucional; e capacitação técnica.
Referências:
Base de dados de espécies exóticas invasoras do Brasil, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Florianópolis – SC. http://bd.institutohorus.org.br/www Acesso em (20/05/2020).
Instituto Oswaldo Cruz - Ciência e Sade Desde 1900, www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm.
“Conheça o Histórico Da Apicultura No Brasil: Sebrae.” Portal Sebrae, www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/conheca-o-historico-da-apicultura-no-brasil,c078fa2da4c72410VgnVCM100000b272010aRCRD.
Contextualização Sobre Espécies Exóticas Invasoras . Mar. 2009, www.avesmarinhas.com.br/10 - Contextualização Sobre Espécies Exóticas Invasoras.pdf.
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